quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Hécate - a deusa grega dos mortos



Em grego, Hekáte, que é o feminino de hekátos, isto é, que “fere à distância, que age como lhe apraz”, qualidade específica da grande deusa, sobre que se apóia especialmente Hesíodo da Teogonia, 425-435.

Deusa aparentada a Ártemis, não possui um mito próprio. Profundamente misteriosa, age mais em função de seus atributos. Embora descenda dos Titãs e seja independente dos deuses olímpicos, Zeus, todavia, lhe conservou os antigos privilégios e até mesmo os aumentou. Em princípio, uma deusa benéfica, que derrama sobre os homens os seus favores, concedendo-lhes a prosperidade material, o dom da eloqüência nas assembléias, a vitória nas batalhas e nos jogos, a abundância de peixes aos pescadores. Faz prosperar o rebanho ou o aniquila, a seu bel-prazer. É a deusa nutriz da juventude, em pé de igualdade com Apolo e Ártemis. Eis aí um retrato de Hécate na época mais antiga.

Ao poucos, entretanto, Hécate foi adquirindo características, atributos e especialização bem diferentes. Deusa ctônia, passou a ser considerada como divindade que preside à magia e aos encantamentos. Ligada ao mundo das sombras, aparece aos feiticeiros e às bruxas com uma tocha em cada mão ou ainda em forma de diferentes animais, como égua, loba, cadela. Tida e havida como inventora da magia, o mito acabou por fazê-la penetrar na família da bruxaria por excelência: Eetes, Circe e Medéia. É assim que tradições tardias fizeram-na mãe de Circe e, por conseguinte, tia de Medéia. Como mágica, Hécate preside às encruzilhadas, local consagrado aos sortilégios. Não raro suas estátuas representam-na sob forma de mulher com três corpos e três cabeças.

Hécate é a deusa dos mortos, não como Perséfone, mas divindade que preside às aparições de fantasmas e senhora dos malefícios. Empunhando duas tochas e seguida de éguas, lobas e cadelas é a senhora toda-poderosa invocada pelas bruxas. Seu poder terrível manifesta-se particularmente à noite, à luz bruxuleante da Lua, com a qual se identifica. Deusa lunar e ctônia, está ligada aos ritos da fertilidade. Sua polaridade, no entanto, já foi acentuada: divindade benfazeja, preside à germinação e ao parto, protege a navegação, prodigaliza prosperidade, concede a eloqüência, a vitória e guia para os caminhos órficos da purificação; em contrapartida, possui em aspecto terrível e infernal: é a deusa dos espectros e dos terrores noturnos, dos fantasmas e dos monstros apavorantes. Mágica por excelência, é senhora da bruxaria. Só se pode esconjurá-la por meio de encantamentos, filtros de amor ou de morte.

Sua representação com três corpos e três cabeças presta-se a interpretações simbólicas de diferentes níveis. Deusa da Lua pode representar-lhe três fases da evolução: crescente, minguante e lua nova, em correlação com às três fases da evolução vital. Deusa ctônia, ela reúne os três níveis: o infernal, o telúrico e o celeste e, por isso mesmo, é cultuada nas encruzilhadas, porque cada decisão a se tomar num trívio postula não apenas uma direção horizontal na superfície da terra, mas antes e especialmente uma direção vertical para um ou para outro dos níveis de vida escolhidos.

A grande mágica das manifestações noturnas simbolizaria ainda o inconsciente, onde se agitam monstros, espectros e fantasmas. De um lado, o inferno vivo do psiquismo, de outro uma imensa reserva de energias que se devem ordenar, como o caos se ordenou em cosmo pela força do espírito.


Fonte: http://peppertouch.wordpress.com/category/mitologia-grega/





No longa metragem de animação de 2005, chamado "Hellboy - Sangue e Ferro", Hellboy e sua equipe combatem a vampira  Erzebet Ondrunsko, personagem cuja criação foi baseada no horrendo e verídico caso da condessa húngara Elisabeth Bathory, uma aristocrata do século XVI que matou aproximadamente 613 moças para utilizar seu sangue, com o qual acreditava se rejuvenescer. Falaremos sobre essa condessa perversa em posts futuros. 
No longa, a vampira Erzebet Ondrunsko é sacerdotisa de Hécate, a deusa grega dos mortos, considerada por alguns como rainha das bruxas, e, por outros, como rainha dos vampiros. É Hécate quem fornece os poderes sobrenaturais à condessa perversa, assim como também é contra ela que Hellboy precisa travar  violento combate para salvar a Terra do domínio das sombras. 






quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sede



Abriu os olhos e suas pupilas amarelas varreram a escuridão ansiosamente. A escuridão era amiga, era a companheira de muito tempo, seu habitat, seu refúgio; na verdade, era ela quem garantia sua existência.
Moveu-se lentamente dentro de seu esquife, iniciando o movimento de sair após ter erguido a tampa do mesmo. Enquanto seus olhos brilhavam intensamente no escuro, suas narinas se dilataram, como se farejassem a presa. Seus ouvidos captaram o som de água que pingava ali por perto. Uma goteira. Aliás, uma não: várias. Olhando mais uma vez ao redor, percebeu que seu abrigo parecia uma caverna ou algo assim. Sim, aos poucos foi se lembrando, era uma espécie de gruta, uma mina esgotada, que outrora devia ter gerado grandes lucros ao seu proprietário.
Com o fluxo das lembranças viu-se invadido por terrível sentimento de revolta. Como não sentiria revolta, diante de tão grande humilhação? Uma criatura de sua estirpe, criado num dos melhores clãs, puro, vindo direto da linhagem de Drácula, fruto da sétima geração que sucedera o Conde, sendo perseguido como uma raposa, e obrigado a se esconder naquela gruta deprimente, cheirando a mofo... Era lastimável! Na Transilvânia era um nobre respeitado e temido, talvez mais temido que respeitado, mas era!
E agora, isso. E tudo por causa daqueles malditos vermes, a quem chamam de humanos! Insetos insignificantes que desejavam destruí-lo! Como ousavam? Não passavam de poeira, seres desprezíveis que podia esmagar com apenas um de seus punhos, sob o impacto do menor dos poderes que a noite lhe fornecia! Mas eles pagariam por tudo que estavam lhe causando! No momento oportuno ele teria sua vingança.
Depois de ficar de pé, bateu com as mãos sobre as roupas de estilo vitoriano, um sobretudo negro, cheio de detalhes, com gola alta, punhos de renda e botões dourados. Um sono de mais de meio século com certeza empoeiraria suas roupas! Feito isso, ergueu a cabeça ao ouvir guinchos estridentes, que ecoavam ao longe e vinham ricocheteando pelas úmidas e pedregosas paredes da caverna.  A seguir, ele próprio produziu um som estranho, um chiado sinistro saiu de seus lábios finos e pálidos, apertados contra os caninos brancos e pontiagudos.
 Segundos depois, em resposta a esse estranho silvo, dezenas de morcegos irromperam na câmara escura onde ele se achava de pé. Os inúmeros morcegos o cercaram e passaram a voar ao redor dele, envolvidos numa espécie de encantamento, executando uma dança que era, ao mesmo tempo, horrenda e maravilhosa. Embora voassem em círculos a sua volta, não o tocaram, e mesmo sem emitir seus guinchos, que servem para orientá-los, tinham consciência da presença de seu mestre naquele lugar. Tinham atendido prontamente o chamado daquele irmão da noite, que por ser superior a eles, era seu senhor.
 No meio do turbilhão de asas negras, ele sorriu misteriosamente. Seus olhos chamejaram e uma metamorfose incrível assolou seu corpo pálido. No instante seguinte, era um deles. De sua forma humana, passara a forma de morcego. Ainda assim, eles o cercavam. Houve uma espécie de comunicação entre eles e, pelo visto, um entendimento, pois os morcegos partiram em seguida e ele, batendo também suas asas, os seguiu.
 Voaram pela infinidade de largos corredores que formavam o labirinto daquela gruta e saíram por uma brecha natural que havia lá em cima, bem alto, no teto, e por onde também entrava a luz fantasmagórica do luar. Mal saíram e ele sentiu o vento frio e cortante da noite, que veio e acariciou seu pequenino e enrugado corpo metamorfoseado. Uma espécie de alívio se apossou dele. Mais de cinqüenta anos em sono profundo, sem sentir a brisa e os aromas da noite! Ele voava escoltado pelos outros. Soube que era pouco mais de meia-noite. Apenas soube, não precisaram lhe dizer. Ele sabia, era um dos filhos da noite. Juntou-se aos outros e formaram uma imensa revoada de asas negras que encobriu a lua cheia.


Trecho de meu conto Sede

Por Danilo Alex da Silva