quinta-feira, 24 de maio de 2012

Vampiros






De modo geral, respeitando as variações regionais da lenda, vampiros são cadáveres reanimados de forma sobrenatural, que se erguem de seus túmulos durante a noite para sugar o sangue dos vivos, e, desse modo, manter uma condição parecida com a vida. Desde os primórdios, o vampiro é uma figura mitológica que habita o imaginário popular mundial. Quase todos os países têm em seu folclore um ser noturno que se alimenta de sangue, principal e preferencialmente de seres humanos.
Encontramos relatos antiqüíssimos a respeito destas criaturas noctívagas na cultura de países como Grécia, Mesopotâmia, Índia, Egito, China. Também os persas, os babilônios e os romanos acreditavam em um tipo de demônio que, durante a noite, atacava animais e pessoas, principalmente crianças, para absorver seu sangue.


Na África temos o Asanbosam, na Grécia temos o Vrykolakas e a Lâmia, o Kappa no Japão, o Bluatsauger na Alemanha, o Logaroo no Haiti, o Vurdalak na Rússia, o Vetala na Índia, no Brasil o Encourado e a Iara, o Camazotoz no México e na Guatemala, o Kiang Shi na China, o Mjertovjec na Ucrânia etc. E também, claro, não podemos esquecer-nos de mencionar o Strigoi, da Romênia, onde, graças a Vlad Tepes, o personagem histórico que inspirou “Drácula”, tornou-se a capital, o grande berço das lendas vampirescas. O mais interessante é que as lendas são autóctones; ou seja, próprias de seu folclore, não sendo importadas ou influenciadas por colonizadores e/ou outros estrangeiros.
O crítico escritor, poeta e pensador francês Voltaire escreveu sobre essas criaturas em seu Dicionário Filosófico:
"Estes vampiros eram corpos que saem das suas sepulturas de noite para sugar o sangue dos vivos, nos seus pescoços ou estômagos, regressando depois aos seus cemitérios."
Sobre a forma como um vampiro é criado, existem algumas divergências. Antigamente se acreditava que esses monstros surgiam quando alguém se suicidava, ou morria afastado de Deus pela excomunhão, ou em vida tinha sido uma pessoa muito cruel, como criminosos e assassinos. Na China acredita-se que um vampiro é criado quando uma pessoa recebe um sepultamento inadequado. Também relatam as lendas chinesas que, se algum animal, principalmente um gato preto, saltar sobre o caixão durante o velório, certamente o morto retornará ao mundo dos vivos como um vampiro. Além disso, alguém poderia se transformar em um desses seres das trevas caso selasse pacto com o diabo, fosse vitimado por bruxaria ou alguma maldição, mantivesse relações incestuosas, ou com uma bruxa. Também as crianças nascidas em circunstâncias consideradas anormais, as não batizadas e as chamadas “devoradoras” (pois, no parto, descobriu-se que algumas crianças devoravam parte da membrana amniótica) estavam sujeitas a carregar o fardo do vampirismo. Eram vampiros em potencial.
 Entretanto, de acordo com o método mais comum, amplamente explorado pelo cinema e literatura, e popularizado por eles, um vampiro é criado quando um ser humano é sugado por uma dessas criaturas, e depois ingere certa quantidade do sangue vampiresco, no qual misturado está o seu próprio. Esta sombria partilha sela a transformação. Sim, como afirmam as Sagradas Escrituras, o sangue é a vida. Mas é também por meio dele que os vivos se tornam mortos-vivos poderosos, sedentos e perigosos.


Ao retornar do reino dos mortos, algumas lendas afirmam que as primeiras vítimas de um vampiro são as pessoas próximas, como parentes, amigos e vizinhos. O monstro recém-criado tem uma sede implacável e precisa se alimentar toda noite. Quanto mais velho for o vampiro, menos sede ele terá, e mais poderoso será.
Dependendo do lugar e da lenda, a aparência e as peculiaridades do vampiro também podem variar. Em algumas versões, ele é uma besta irracional, com cauda e pelos pelo corpo, grande e brutal. Pode ter cascos ou patas, cifres ou asas etc. Falemos um pouco sobre a forma mais popular dos vampiros, aquela que conhecemos pelos filmes e livros.
Ao ser mordido e transformado por um vampiro, o ser humano normalmente perde sua alma. Sofre a morte física. O que vem reanimar o corpo é um demônio. As memórias e os pensamentos são mantidos, bem como o modo de falar, de andar, conquanto não seja mais a pessoa no controle, e sim o demônio. Com a perda da alma, a pessoa transformada não tem mais consciência. O vampiro é um predador. Um incontrolável assassino sobrenatural, uma besta sedenta de sangue, que caça os humanos para se alimentar ou se divertir.


Um vampiro é a obra-prima do diabo em tentar imitar Deus ao criar a vida (diabolus símia Dei). Este morto-vivo em tudo se parece com um ser humano comum, de modo que pode circular tranquilamente entre os viventes sem ser descoberto. Todavia, algumas características, se observadas com atenção, podem denunciar a presença do vampiro.
Geralmente os vampiros tem a pele pálida e fria. Porém, depois que se alimentam, ficam corados e com o corpo quente devido o sangue que acabaram de ingerir. Sem alma, não tem reflexo no espelho ou projeção de sombra, pois nosso reflexo e nossa sombra espelham nossa alma, refletem aquilo que verdadeiramente somos. Em tudo se parecem fisicamente com um ser humano; sua verdadeira forma, demoníaca e aterradora, só é revelada à vítima momentos antes da mesma ser atacada pelo monstro. Possuem unhas compridas, que em alguns casos funcionam como uma espécie de garra retrátil. Os caninos pontudos também são retráteis, revelados apenas na hora de morder a presa.



Ao morder uma pessoa, o vampiro não precisa necessariamente matá-la; pode se alimentar de apenas parte de seu sangue. Mas geralmente ele prefere matar, sugando todo o sangue. Seus sentidos são muito aguçados, próprios de um caçador. Tem uma força descomunal, independentemente de seu porte físico. O Drácula de Bram Stoker possuía a força de dez homens. Eles apenas podem entrar em uma casa se forem convidados. Mas quando entram uma vez, podem voltar sempre que quiserem, e não precisam mais de convite. São capazes de ter acesso às memórias e aos segredos de qualquer pessoa cujo sangue eles bebam. Podem se locomover a uma velocidade sobrenatural, tão rápido que olhos humanos não seriam capazes de acompanhar. Alguns podem controlar o clima, criar tempestades etc. Possuem poderes hipnóticos. Sua regeneração é praticamente imediata, com exceção de ferimentos causados por fogo ou luz solar. Não conseguem atravessar água corrente, a menos que estejam em seus caixões, onde gostam de dormir, de preferência com um pouco de terra de sua cidade natal no interior de seu esquife.
Quando é criado, a aparência de um vampiro permanecerá imutável; a pessoa será sempre exatamente do jeito que morreu ao ser mordida. Cabelos e unhas podem ser cortados, mas na noite seguinte já terão voltado ao tamanho original, do mesmo modo que estavam na ocasião da morte. Seu processo de envelhecimento existe, mas é tão lento que pode levar centenas de anos para que se perceba alguma mudança física no vampiro, como diferença na pele ou na tonalidade do cabelo. Eles envelhecem, mas isso é praticamente imperceptível.
Em alguns casos, e de acordo com alguns autores, entre os atributos do vampiro estão as habilidades metamórficas. Ou seja, podem se transformar em animais, sobretudo noturnos, como morcegos, lobos, corvos, aranhas, ou qualquer outro que lhe facilite a fuga ou o ataque. Devido a isso, durante muito tempo as lendas sobre vampiros e lobisomens se confundiram.


Vampiros são seres inteligentes, violentos e autoconfiantes. Tem um modo de se expressar único. São criaturas sedutoras, irresistíveis aos olhos dos pobres mortais. O êxtase que sentem na mordida e na sucção do sangue supera infinitamente o prazer sexual dos humanos.
Um vampiro é imortal. Não pode ser morto, mas pode ser destruído. São repelidos por alho ou espinhos de roseira selvagem. Também podem ser afugentados por água benta, crucifixos ou qualquer outro objeto religioso, desde que a pessoa que o empunhe tenha fé suficiente. Eles não podem pisar solo sagrado e nem entrar em igrejas, por exemplo. Na Idade Média, antes que as missas começassem, costumava-se entregar dentes de alho aos fiéis, para ter certeza de que apenas humanos estavam presentes.
Vampiros são sensíveis à luz. Fogo e luz do sol, de acordo com a maioria dos estudiosos do assunto, são letais para eles, embora no princípio nem todas as lendas fossem assim. Drácula podia caminhar durante o dia, mas perdia todos os seus poderes sobrenaturais, de modo que se igualava a um homem comum. Era perigoso estar assim, pois se apresentava vulnerável diante de seus caçadores.
Decapitação pode acabar definitivamente com um vampiro. Há versões em que a estaca de madeira no coração também o destrói. Em outras, ela apenas o paralisa. Se for removida, traz o morto-vivo “de volta à vida”. De modo similar aos lobisomens, prata também é fatal aos vampiros.



A figura do vampiro que conhecemos hoje deve muito, primeiramente à literatura, e em seguida, ao teatro e ao cinema. Grandes escritores trabalharam arduamente para reunir as características da lenda, e dessa maneira moldar o vampiro literário. O inglês John Polidori com seu conto “The Vampire”, os irlandeses Sheridan Le Fanu com “Carmilla” e Bram Stoker com “Drácula” são grandes exemplos, assim como temos James Malcom Rymer com o seu folhetim “Varney the vampire”, que era uma espécie de pulp fiction, essas histórias que vem contada em capítulos nos jornais e revistas. Uma espécie de mini livro que teve muitas edições. Isso sem mencionar os contos de Poe, os poemas de Goethe e de Baudelaire, e tantos outros bons autores ao redor do mundo, que posteriormente contribuíram na divulgação da lenda vampiresca, como Richard Matheson com seu “Eu sou a lenda”, Stephen King com o seu “A Hora do Vampiro”, Anne Rice com “Entrevista com o Vampiro” e os demais volumes das Crônicas Vampirescas, e tantos outros. No Brasil mesmo, atualmente temos grandes exemplos de bons escritores de literatura fantástica, cuja temática é vampiresca; tais como André Vianco, Giulia Moon, Adriano Siqueira, Juliano César Sasseron, Vivianne Fair. Ivan Jaf e Carlos Queiroz Telles não são exclusivamente autores de vampiros, mas já escreveram sobre, e produziram obras de qualidade.







Com o tempo vieram os filmes, como o “Nosferatu”, do pretensioso alemão Murnau, que adaptou Drácula para o cinema sem a autorização da viúva de Bram Stoker. O filme, que era mudo e em preto e branco, foi um dos pioneiros a levar para as telas o terror causado pelo vampiro. Mais tarde surgiram os filmes da Hammer, com Bela Lugosi, Cristhopher Lee e Peter Cushing, que eternizaram nas telonas a figura do vampiro e de seu caçador. Depois surgiram os clássicos como “Garotos Perdidos”, “A Hora do Espanto”, “Um Drinque no Inferno” etc., até os recentes “As Donas da Noite”,Deixe-me entrar” e “Anjos da Noite 4 – O Despertar”.





Nos gibis, surgiu a “Tumba de Drácula”, produzido pela Marvel. Hoje temos muitos outros, de diversas nacionalidades.
Os vampiros também conquistaram espaço nos seriados e programas de televisão. Grandes exemplos são “Dark Shadows”, “Forever Knight”, “Buffy a Caça Vampiros”, “Angel”, “True Blood”, “Moonlight”. O Brasil também está começando a apostar em séries vampirescas. Dois exemplos são O Turno da Noite, adaptado dos livros de André Vianco, e Post Scriptum. Também no Brasil duas novelas já foram ao ar: “Vamp” e “O Beijo do Vampiro”.




Trailers das séries brasileiras sobre vampiros



O Turno da Noite


  

Post Scriptum

E eles também estão presentes na música, principalmente no rock, nas canções de bandas como a inglesa “Cradle of Filth”.
E também os encontramos nos games. Castlevania, por exemplo, é uma série de jogos de diversos consoles que ainda hoje faz grande sucesso entre o público. Castlevania conta as aventuras de uma família de guerreiros, os Belmont, que há séculos vem combatendo ameaças sobrenaturais, principalmente vampiros. Também fazem sucesso nos jogos de RPG, como o famoso "Vampiro, A Máscara".
E nos desenhos animados não poderiam faltar vampiros, sobretudo japoneses, como o interessante “Helsing”, por exemplo.


Com a passagem dos tempos, é necessária a releitura constante da lenda, o que acaba trazendo modernização para o mito. Logo, nas novas histórias vampirescas, temos características que foram acrescentadas, e outras que foram excluídas, para se adaptar à abordagem da história. Em minha opinião, isso pode ser bom, desde que não seja exagerado. Claro que o escritor deve ter liberdade para criar seus personagens e seu próprio universo, mas algumas características cruciais precisam ser mantidas; caso contrário, acontecerá o empobrecimento da lenda que, como vimos, foi lapidada com dificuldade e esmero ao longo dos tempos.
Nada do que citei nessa postagem é totalmente definitivo ou irrefutável. Como eu disse, a lenda varia dependendo da época, da crença local e do autor. Haveria muito mais a ser dito e citado devido a vastidão do tema, mas teremos de abordar esses pontos que faltaram nas futuras postagens.


Finalizando, embora muita gente considere vampiros um assunto fútil, estudiosos conceituados pesquisaram e escreveram a respeito, tais como Montague Summers, Dom Calmet, Radu Florescu. Ainda hoje o tema é estudado com seriedade, tanto que existem cursos de doutorado sobre Drácula e vampirologia.

O que sabemos, é que toda lenda nasce de algum fato ou situação real. E você, acredita em vampiros?

Por via das dúvidas, é melhor tomar muito mais cuidado ao convidar algum desconhecido para entrar na sua casa.



“Os seus lábios são como espadas... Vagueiam à busca de alimento, e se não se saciam, rondam a noite...”
(Salmo 58-16)





Fontes:

Wikipédia
Blog Mistérios Fantásticos
A Enciclopédia dos vampiros – Dr. J. Gordon Melton
O livro dos vampiros – Jean Paul Bourre
Drácula – Bram Stoker
As Crônicas Vampirescas – Anne Rice

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