De
modo geral, respeitando as variações regionais da lenda, vampiros são cadáveres
reanimados de forma sobrenatural, que se erguem de seus túmulos durante a noite
para sugar o sangue dos vivos, e, desse modo, manter uma condição parecida com
a vida. Desde os primórdios, o vampiro é uma figura mitológica que habita o
imaginário popular mundial. Quase todos os países têm em seu folclore um ser noturno
que se alimenta de sangue, principal e preferencialmente de seres humanos.
Encontramos
relatos antiqüíssimos a respeito destas criaturas noctívagas na cultura de
países como Grécia, Mesopotâmia, Índia, Egito, China. Também os persas, os
babilônios e os romanos acreditavam em um tipo de demônio que, durante a noite,
atacava animais e pessoas, principalmente crianças, para absorver seu sangue.
Na
África temos o Asanbosam, na Grécia
temos o Vrykolakas e a Lâmia, o Kappa no Japão, o Bluatsauger
na Alemanha, o Logaroo no Haiti,
o Vurdalak na Rússia, o Vetala na Índia, no Brasil o Encourado e a Iara, o Camazotoz no México e na Guatemala, o Kiang Shi na China, o Mjertovjec na Ucrânia etc. E também, claro, não podemos
esquecer-nos de mencionar o Strigoi,
da Romênia, onde, graças a Vlad Tepes, o personagem histórico que inspirou
“Drácula”, tornou-se a capital, o grande berço das lendas vampirescas. O mais
interessante é que as lendas são autóctones; ou seja, próprias de seu folclore,
não sendo importadas ou influenciadas por colonizadores e/ou outros
estrangeiros.
O
crítico escritor, poeta e pensador francês Voltaire escreveu sobre essas
criaturas em seu Dicionário Filosófico:
"Estes vampiros eram corpos que saem das suas sepulturas de noite
para sugar o sangue dos vivos, nos seus pescoços ou estômagos, regressando
depois aos seus cemitérios."
Sobre a forma como um vampiro é criado,
existem algumas divergências. Antigamente se acreditava que esses monstros
surgiam quando alguém se suicidava, ou morria afastado de Deus pela excomunhão,
ou em vida tinha sido uma pessoa muito cruel, como criminosos e assassinos. Na
China acredita-se que um vampiro é criado quando uma pessoa recebe um
sepultamento inadequado. Também relatam as lendas chinesas que, se algum animal,
principalmente um gato preto, saltar sobre o caixão durante o velório, certamente
o morto retornará ao mundo dos vivos como um vampiro. Além disso, alguém poderia se transformar em um desses seres das trevas caso selasse pacto com o
diabo, fosse vitimado por bruxaria ou alguma maldição, mantivesse relações
incestuosas, ou com uma bruxa. Também as crianças nascidas em circunstâncias
consideradas anormais, as não batizadas e as chamadas “devoradoras” (pois, no
parto, descobriu-se que algumas crianças devoravam parte da membrana amniótica)
estavam sujeitas a carregar o fardo do vampirismo. Eram vampiros em potencial.
Entretanto, de acordo com o método mais comum,
amplamente explorado pelo cinema e literatura, e popularizado por eles, um
vampiro é criado quando um ser humano é sugado por uma dessas criaturas, e
depois ingere certa quantidade do sangue vampiresco, no qual misturado está o
seu próprio. Esta sombria partilha sela a transformação. Sim, como afirmam as
Sagradas Escrituras, o sangue é a vida. Mas é também por meio dele que os vivos
se tornam mortos-vivos poderosos, sedentos e perigosos.
Ao retornar do reino dos mortos, algumas
lendas afirmam que as primeiras vítimas de um vampiro são as pessoas próximas,
como parentes, amigos e vizinhos. O monstro recém-criado tem uma sede
implacável e precisa se alimentar toda noite. Quanto mais velho for o
vampiro, menos sede ele terá, e mais poderoso será.
Dependendo do lugar e da lenda, a aparência e
as peculiaridades do vampiro também podem variar. Em algumas versões, ele é uma
besta irracional, com cauda e pelos pelo corpo, grande e brutal. Pode ter
cascos ou patas, cifres ou asas etc. Falemos um pouco sobre a forma mais
popular dos vampiros, aquela que conhecemos pelos filmes e livros.
Ao ser mordido e transformado por um vampiro,
o ser humano normalmente perde sua alma. Sofre a morte física. O que vem
reanimar o corpo é um demônio. As memórias e os pensamentos são mantidos, bem
como o modo de falar, de andar, conquanto não seja mais a pessoa no controle, e
sim o demônio. Com a perda da alma, a pessoa transformada não tem mais
consciência. O vampiro é um predador. Um incontrolável assassino sobrenatural,
uma besta sedenta de sangue, que caça os humanos para se alimentar ou se
divertir.
Um vampiro é a obra-prima do diabo em tentar
imitar Deus ao criar a vida (diabolus
símia Dei). Este
morto-vivo em tudo se parece com um ser humano comum, de modo que pode circular
tranquilamente entre os viventes sem ser descoberto. Todavia, algumas
características, se observadas com atenção, podem denunciar a presença do
vampiro.
Geralmente os vampiros tem a pele pálida e
fria. Porém, depois que se alimentam, ficam corados e com o corpo quente devido
o sangue que acabaram de ingerir. Sem alma, não tem reflexo no espelho ou
projeção de sombra, pois nosso reflexo e nossa sombra espelham nossa alma,
refletem aquilo que verdadeiramente somos. Em tudo se parecem fisicamente com um
ser humano; sua verdadeira forma, demoníaca e aterradora, só é revelada à
vítima momentos antes da mesma ser atacada pelo monstro. Possuem unhas
compridas, que em alguns casos funcionam como uma espécie de garra retrátil. Os
caninos pontudos também são retráteis, revelados apenas na hora de morder a
presa.
Ao morder uma pessoa, o vampiro não precisa
necessariamente matá-la; pode se alimentar de apenas parte de seu sangue. Mas
geralmente ele prefere matar, sugando todo o sangue. Seus sentidos são muito
aguçados, próprios de um caçador. Tem uma força descomunal, independentemente
de seu porte físico. O Drácula de Bram Stoker possuía a força de dez homens. Eles
apenas podem entrar em uma casa se forem convidados. Mas quando entram uma vez,
podem voltar sempre que quiserem, e não precisam mais de convite. São capazes
de ter acesso às memórias e aos segredos de qualquer pessoa cujo sangue eles
bebam. Podem se locomover a uma velocidade sobrenatural, tão rápido que olhos
humanos não seriam capazes de acompanhar. Alguns podem controlar o clima, criar
tempestades etc. Possuem poderes hipnóticos. Sua regeneração é praticamente
imediata, com exceção de ferimentos causados por fogo ou luz solar. Não
conseguem atravessar água corrente, a menos que estejam em seus caixões, onde
gostam de dormir, de preferência com um pouco de terra de sua cidade natal no
interior de seu esquife.
Quando é criado, a aparência de um vampiro
permanecerá imutável; a pessoa será sempre exatamente do jeito que morreu ao
ser mordida. Cabelos e unhas podem ser cortados, mas na noite seguinte já terão
voltado ao tamanho original, do mesmo modo que estavam na ocasião da morte. Seu
processo de envelhecimento existe, mas é tão lento que pode levar centenas de
anos para que se perceba alguma mudança física no vampiro, como diferença na
pele ou na tonalidade do cabelo. Eles envelhecem, mas isso é praticamente
imperceptível.
Em alguns casos, e de acordo com alguns
autores, entre os atributos do vampiro estão as habilidades metamórficas. Ou
seja, podem se transformar em animais, sobretudo noturnos, como morcegos,
lobos, corvos, aranhas, ou qualquer outro que lhe facilite a fuga ou o ataque. Devido
a isso, durante muito tempo as lendas sobre vampiros e lobisomens se
confundiram.
Vampiros são seres inteligentes, violentos e
autoconfiantes. Tem um modo de se expressar único. São criaturas sedutoras,
irresistíveis aos olhos dos pobres mortais. O êxtase que sentem na mordida e na
sucção do sangue supera infinitamente o prazer sexual dos humanos.
Um vampiro é imortal. Não pode ser morto, mas
pode ser destruído. São repelidos por alho ou espinhos de roseira selvagem.
Também podem ser afugentados por água benta, crucifixos ou qualquer outro
objeto religioso, desde que a pessoa que o empunhe tenha fé suficiente. Eles
não podem pisar solo sagrado e nem entrar em igrejas, por exemplo. Na Idade
Média, antes que as missas começassem, costumava-se entregar dentes de alho aos
fiéis, para ter certeza de que apenas humanos estavam presentes.
Vampiros são sensíveis à luz. Fogo e luz do
sol, de acordo com a maioria dos estudiosos do assunto, são letais para eles,
embora no princípio nem todas as lendas fossem assim. Drácula podia caminhar
durante o dia, mas perdia todos os seus poderes sobrenaturais, de modo que se
igualava a um homem comum. Era perigoso estar assim, pois se apresentava
vulnerável diante de seus caçadores.
Decapitação pode acabar definitivamente com
um vampiro. Há versões em que a estaca de madeira no coração também o destrói.
Em outras, ela apenas o paralisa. Se for removida, traz o morto-vivo “de volta
à vida”. De modo similar aos lobisomens, prata também é fatal aos vampiros.
A figura do vampiro que conhecemos hoje deve
muito, primeiramente à literatura, e em seguida, ao teatro e ao cinema. Grandes escritores
trabalharam arduamente para reunir as características da lenda, e dessa maneira
moldar o vampiro literário. O inglês John Polidori com seu conto “The Vampire”, os irlandeses Sheridan Le
Fanu com “Carmilla” e Bram Stoker
com “Drácula” são grandes exemplos,
assim como temos James Malcom Rymer com o seu folhetim “Varney the vampire”, que era uma espécie de pulp fiction, essas histórias que vem contada em capítulos nos
jornais e revistas. Uma espécie de mini livro que teve muitas edições. Isso sem
mencionar os contos de Poe, os poemas de Goethe e de Baudelaire, e tantos
outros bons autores ao redor do mundo, que posteriormente contribuíram na
divulgação da lenda vampiresca, como Richard Matheson com seu “Eu sou a lenda”, Stephen King com o seu
“A Hora do Vampiro”, Anne Rice com “Entrevista com o Vampiro” e os demais
volumes das Crônicas Vampirescas, e tantos outros. No Brasil mesmo, atualmente
temos grandes exemplos de bons escritores de literatura fantástica, cuja
temática é vampiresca; tais como André Vianco, Giulia Moon, Adriano Siqueira,
Juliano César Sasseron, Vivianne Fair. Ivan Jaf e Carlos Queiroz Telles não são
exclusivamente autores de vampiros, mas já escreveram sobre, e produziram obras
de qualidade.
Com o tempo vieram os filmes, como o “Nosferatu”, do pretensioso alemão
Murnau, que adaptou Drácula para o cinema sem a autorização da viúva de Bram
Stoker. O filme, que era mudo e em preto e branco, foi um dos pioneiros a levar
para as telas o terror causado pelo vampiro. Mais tarde surgiram os filmes da
Hammer, com Bela Lugosi, Cristhopher Lee e Peter Cushing, que eternizaram nas
telonas a figura do vampiro e de seu caçador. Depois surgiram os clássicos como
“Garotos Perdidos”, “A Hora do Espanto”, “Um Drinque no Inferno”
etc., até os recentes “As Donas da
Noite”, “Deixe-me entrar” e “Anjos
da Noite 4 – O Despertar”.
Nos gibis, surgiu a “Tumba de Drácula”, produzido pela Marvel. Hoje temos muitos outros,
de diversas nacionalidades.
Os vampiros também conquistaram espaço nos
seriados e programas de televisão. Grandes exemplos são “Dark Shadows”, “Forever
Knight”, “Buffy a Caça Vampiros”,
“Angel”, “True Blood”, “Moonlight”.
O Brasil também está começando a apostar em séries vampirescas. Dois exemplos
são O Turno da Noite, adaptado dos
livros de André Vianco, e Post Scriptum.
Também no Brasil duas novelas já foram ao ar: “Vamp” e “O Beijo do Vampiro”.
Trailers das séries brasileiras sobre vampiros
O Turno da Noite
Post Scriptum
E eles também estão presentes na música,
principalmente no rock, nas canções de bandas como a inglesa “Cradle of Filth”.
E também os encontramos nos games. Castlevania, por exemplo, é uma série
de jogos de diversos consoles que ainda hoje faz grande sucesso entre o
público. Castlevania conta as aventuras de uma família de guerreiros, os
Belmont, que há séculos vem combatendo ameaças sobrenaturais, principalmente
vampiros. Também fazem sucesso nos jogos de RPG, como o famoso "Vampiro, A Máscara".
E nos desenhos animados não poderiam faltar
vampiros, sobretudo japoneses, como o interessante “Helsing”, por exemplo.
Com a passagem dos tempos, é necessária a
releitura constante da lenda, o que acaba trazendo modernização para o mito.
Logo, nas novas histórias vampirescas, temos características que foram
acrescentadas, e outras que foram excluídas, para se adaptar à abordagem da
história. Em minha opinião, isso pode ser bom, desde que não seja exagerado. Claro que
o escritor deve ter liberdade para criar seus personagens e seu próprio
universo, mas algumas características cruciais precisam ser mantidas; caso
contrário, acontecerá o empobrecimento da lenda que, como vimos, foi lapidada
com dificuldade e esmero ao longo dos tempos.
Nada do que citei nessa postagem é totalmente
definitivo ou irrefutável. Como eu disse, a lenda varia dependendo da época, da
crença local e do autor. Haveria muito mais a ser dito e citado devido a
vastidão do tema, mas teremos de abordar esses pontos que faltaram nas futuras
postagens.
Finalizando, embora muita gente considere vampiros
um assunto fútil, estudiosos conceituados pesquisaram e escreveram a respeito,
tais como Montague Summers, Dom Calmet, Radu Florescu. Ainda hoje o tema é estudado com
seriedade, tanto que existem cursos de doutorado sobre Drácula e vampirologia.
O que sabemos, é que toda lenda nasce de
algum fato ou situação real. E você, acredita em vampiros?
Por via das dúvidas, é melhor tomar muito
mais cuidado ao convidar algum desconhecido para entrar na sua casa.
“Os seus lábios são como espadas... Vagueiam à busca
de alimento, e se não se saciam, rondam a noite...”
(Salmo 58-16)
Fontes:
Wikipédia
Blog Mistérios
Fantásticos
A Enciclopédia dos
vampiros – Dr. J. Gordon Melton
O livro dos
vampiros – Jean Paul Bourre
Drácula – Bram
Stoker
As Crônicas
Vampirescas – Anne Rice