terça-feira, 30 de outubro de 2012

The Raven – O Corvo




         O Corvo é um filme de suspense, dirigido por James McTeigue (V de Vingança) e lançado neste ano. O filme é uma versão ficcionalizada dos últimos cinco dias da vida do poeta Edgar Allan Poe, cuja verdadeira morte é até hoje um mistério. Sabe-se que ele foi descoberto nas ruas de Baltimore em estado de delírio e grande estresse. Poe estava vestido com as roupas de outra pessoa, repetindo o nome “Reynolds”, e morreu pouco tempo depois em um hospital, sem nunca ter explicado o que aconteceu.



O escritor Edgar Alan Poe (John Cusack) está na caça de um assassino serial que imita os crimes de seus contos e ainda sequestrou sua noiva Emily (Alice Eve). Para ajudá-lo na investigação, o detetive Emmet assume o caso e pretende dar um fim aos terríveis assassinatos, que são seguidos de charadas criadas pelo criminoso que desafia a inteligência do autor num jogo de gato e rato.



Segue abaixo a tradução por Fernando Pessoa do poema que deu origem ao título do filme – The Raven, escrito em 1845 por Edgar Allan Poe:


O CORVO 
(de Edgar Allan Poe)

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,

Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.


É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,

E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,


Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo

Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.


É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,

"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.


Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,

Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.


Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,

Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.


"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,


Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura

Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."


Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,

Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,


Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,

Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".


Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,

"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais


Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,

Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,


Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo

À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,


Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso

Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!

Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!


Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!

Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!

Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda

No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,


Libertar-se-á... nunca mais!

Fernando Pessoa






segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Súcubos





Súcubo, do latim succubus, de sucubare, é um demônio que assume aparência feminina para invadir os sonhos dos homens durante a madrugada, manter com eles relação sexual e lhes roubar a energia vital. São um tipo de vampiras sexuais.
Ao invadir o sonho, o súcubo assume a aparência física do desejo sexual de suas vítimas, e se alimenta da energia gerada pela cópula. Na Idade Média, eram esses demônios os causadores da polução noturna. Eram enviados do Inferno para a Terra, a fim de visitar mosteiros e desvirtuar monges, assombrando-os e seduzindo-os em suas celas durante a noite.
O homem que fosse acusado de haver mantido relações com esses demônios poderia ser punido com severidade pela Inquisição.


Aos ataques dessa criatura associam-se casos de doença e tormento psicológico de ordem sexual, já que após as investidas sucediam pesadelos e poluções noturnas. Segundo a mitologia, os súcubos são seres que podem viver aproximadamente 750 anos, e sua contraparte masculina é chamada de Íncubo.
A palavra “succubus” vem de uma antiga alteração do latim succuba, significando prostituta. A palavra é derivada do latim “sub”, que significa “embaixo, por baixo”, e da forma verbal “cubo”, ou seja, “eu me deito”; desse modo, súcubo é alguém que se deita por baixo de outra pessoa.


De acordo com o “Malleus Maleficarum”, conhecido como “O Martelo das Bruxas”, ou “O Código Penal das Bruxas”, o súcubo não apenas se alimenta da energia sexual gerada pela relação, como também recolhe o sêmen do homem com quem copula, para que um íncubo posteriormente possa engravidar mulheres. As crianças nascidas dessa abominável relação estavam fadadas a ser mais suscetíveis a ações diabólicas ao longo da vida.
Em algumas versões da lenda, o súcubo se transformava no íncubo, sua forma infernal masculina, e usava o esperma recém-coletado para fecundar mulheres. Obviamente demônios não se reproduzem de maneira natural; todavia, por meio dessa abjeta e sombria inseminação, o íncubo poderia engravidar uma mulher a partir do ataque do súcubo.
Quando o súcubo escolhe uma presa, suas visitas são recorrentes; suga a energia vital do homem, que fica extremamente debilitado, e pode levá-lo à morte por exaustão. Em alguns casos, o infeliz não morre, mas “apaixona-se” pelo monstro, que passa a habitar a mente da vítima mesmo enquanto a mesma se encontra acordada. Isso pode desencadear loucura.


Embora, de maneira geral a aparência dos súcubos varie de acordo com a crença, eles são retratados como mulheres sedutoras e belas, muitas vezes com asas de morcego e grandes seios. Às vezes elas também possuem outras características demoníacas, como cascos e chifres. A Lilith da crença judaica, a qual se encaixa na descrição acima, algumas vezes é apontada como a rainha dos súcubos.
No conjunto de crenças do Oriente Médio, a versão da succubus, conhecida como “Al duwayce”, é relatada com uma mulher bonita, perfumada e sedutora que vaga pelo deserto nos cascos de um camelo.
Ao contrário das outras versões da lenda do súcubo, em que o monstro se deita com os homens para sugar-lhes a energia sexual e coletar esperma para engravidar mulheres tomando a forma do íncubo, esta especialmente é uma juíza da vingança para os homens adúlteros.


Atraindo as vítimas, eles mantêm relação com esse demônio desconhecendo o perigo, pois este tipo de súcubo possui lâminas afiadas em sua vagina; lâminas essas que utiliza para decepar o pênis da presa. Enquanto o homem ferido se contorce em agonia, a súcubo revela sua verdadeira face monstruosa e o devora ainda vivo.

Os súcubos já foram mencionados em seriados como Buffy, a Caça Vampiros.


No filme “Garota Infernal”, lançado em 2009, Megan Fox interpreta Jennifer, uma garota que, após ser vitimada por um rito satânico, acaba se transformando em um súcubo.

Devil's Kettle é uma pequena cidade dos Estados Unidos, onde vivem Jennifer (Megan Fox) e Needy (Amanda Seyfried). As duas são amigas desde a infância e estão sempre juntas. Um dia, Jennifer chama Needy para ir a um bar local, onde tocará uma nova banda de rock. Só que, durante o show, um grande incêndio faz com que vários dos presentes morram. As amigas conseguem escapar, assim como os músicos. Ainda em estado de choque, Jennifer recebe o convite do vocalista para que conheça a van da banda. Apesar dos avisos de Needy, ela aceita o convite. Já em casa, Needy está ao telefone com Chip (Johnny Simmons), seu namorado, quando ouve um barulho estranho. Logo ela percebe que Jennifer está em sua casa, toda ensanguentada e vomitando um líquido estranho. A partir de então, ela passa a agir de forma estranha, por vezes arrogante e desprezando os mortos no incêndio. Consciente de que é objeto de desejo dos garotos da escola, ela passa a atraí-los para depois devorá-los, literalmente.




Fontes:

http://minilua.com/lenda-demoniaca-succubus/#.UHNRSrPyaxU
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%BAcubo
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-132052/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lilith